Volume 45 – N. 1 – Abril de 2011
Apresentação
A data 18 de Dezembro de 1960 é o momento em que a UFSC aparece nas páginas do Diário Oficial da União. Ela merece ser comemorada, mas a instituição só ganhou vida com a aglutinação das unidades que se encontravam em pleno funcionamento; a federalização foi algo natural, pois muitas universidades federais surgiram na mesma época. Os eventos anteriores foram mais complexos e mais significativos na história da UFSC e, com efeito, sobressaem dois personagens de grande valor: José Arthur Boiteux (1865-1934) e Henrique da Silva Fontes (1885-1966). Eles deram substanciais contribuições para a criação da nossa universidade, embora seus nomes sejam pouco lembrados nos eventos comemorativos. Reitores e dirigentes que vieram a seguir engrandeceram o nome da nossa universidade, mas foram beneficiários de suas ações.
A seção Memórias Universitárias examina a pré-história da vida universitária. Tudo começou com a criação do Instituto Polytechnico (1917), episódio que inaugurou o ensino superior em Santa Catarina; a instituição teve vida curta e tumultuada, mas o seu funcionamento proporcionou oportunidade para o surgimento da Faculdade de Direito (1932). As duas instituições foram frutos do espírito arrojado de Boiteux, mas a última contou a participação de Henrique Fontes desde os primeiros suspiros de vida. O desbravador Boiteux faleceu dois anos após a criação da Faculdade de Direito e Fontes assume os encargos e avança em direção à criação de uma universidade. Inicialmente, ele imaginou a construção do “Quarteirão Universitário” e convenceu intelectuais renomados, do Brasil e do exterior, a colaborar na implantação da Faculdade Catarinense de Filosofia (1951), unidade fundamental para a instalação de uma universidade. Essas idéias haviam sido debatidas na Faculdade de Direito e alimentaram as discussões ocorridas no I Congresso de História Catarinense (1948). Quem estava por detrás desses empreendimentos? É o Desembargador Fontes.
Os governadores foram convencidos acerca da importância do projeto e, graças aos argumentos de Fontes, uma vasta área situada entre os bairros Trindade e Pantanal, onde funcionava a Fazenda Modelo Assis Brasil, foi cedida para a construção do Campus Universitário; Fontes era o “Encarregado dos estudos de criação da Universidade de Santa Catarina”, função não-remunerada que ele exercera de 21 de Novembro de 1955 até a efetiva implantação da UFSC (1962). Outro personagem importante foi o Governador Heriberto Hülse (1902-72), pois ele forneceu todo apoio necessário e prestigiou as ações de seu ilustre e septuagenário colaborador; Hülse também é pouco lembrado nos alegres eventos comemorativos da UFSC. Muitos defendiam que as unidades da universidade deveriam ser mantidas espalhadas pelo centro de Florianópolis, mas Fontes tinha os olhos voltados para o futuro e entendia perfeitamente o significado de uma verdadeira universidade – o lugar favorável ao desenvolvimento da pesquisa pura e original e onde alunos e professores teriam convivência harmônica num local previamente idealizado.
A seção Memórias Universitárias examina as ações de outros personagens da nossa vida universitária, mas está centralizada no seu personagem maior, o Desembargador Henrique Fontes. Ele foi um intelectual respeitável e empresta o seu nome para designar ruas e avenidas, escolas e o vistoso Centro Integrado de Cultura. A UFSC deveria reverenciá-lo mais intensamente, mas é exatamente a instituição que pouco se lembra de seus feitos.
Os depoimentos apontam que Fontes realizou tudo o que era necessário para a criação da nossa universidade: ele aglutinou as melhores inteligências em favor do projeto e seus feitos estão indelevelmente associados ao atual Campus Universitário e duas importantes unidades acadêmicas (i.e., o Centro de Filosofia e Ciências Humanas e o Centro de Ciências Jurídicas). Nenhum personagem da UFSC ostenta tais credenciais.
Outra curiosidade é o nome do campus universitário: Fontes elaborou o projeto, conseguiu a doação da Fazenda Modelo Assis Brasil para abrigar as futuras unidades acadêmicas, vistoriou as obras e inaugurou o funcionamento do campus. Alguns se opunham à transferência das unidades do centro de Florianópolis para o bairro Trindade ou mesmo eram contrários à idéia da aglutinação das unidades num só local, mas predominaram as idéias do velho desembargador. Não obstante os seus esforços, o personagem que mais combateu a idéia acabou emprestando o seu nome para designar o local. É o Campus Universitário João David Ferreira Lima.
As origens da UFSC remontam aos tempos do Instituto Polytechnico (1917), mas alguns acreditam que ela só ganhou vida a partir da federalização e a publicação do ato presidencial no Diário Oficial da União (1960). Entretanto, a análise dos documentos e a opinião dos antigos membros da comunidade universitária favorecem a memória do Henrique Fontes; os amigos exibem certa insatisfação com a falta de reconhecimento institucional de seus feitos, pois argumentam que ele realizou tudo o que era necessário e fundamental para a criação da UFSC. Ele deveria ocupar o posto mais elevado da administração universitária, mas os desdobramentos da política partidária e a idade avançada impediram que isso ocorresse. O próprio Fontes sabia que não tinha condições para enfrentar os novos desafios e optou pelo recolhimento voluntário, mas isso não atenua a gravidade do descaso institucional acerca da memória do verdadeiro patrono do ensino universitário no Estado de Santa Catarina.
Rogerio F. Guerra – Editor de RCH
Memórias Universitárias
Henrique da Silva Fontes e a criação da Universidade Federal de Santa Catarina
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